sábado, 15 de dezembro de 2007

EU QUERIA SER O MELHOR
Episódio da música Cantiga

Não me lembro exatamente o ano, só sei que era na década de 80, quando eu estava ensaiando um Show que se chamava “Anel Rodoviário”, este show era composto de 16 músicas de própria autoria. Nesta época estava eu otimista com o resultado desse show quando paralelamente eu estava prestes a participar de um Festival de Música Popular Brasileira promovido por uma multinacional. Já tinha participado desse festival nas edições anteriores e nos dois últimos tinha chegado à fase final e eu na época tinha o propósito de chegar a melhor colocação no festival, ou seja, ganhar o festival. Preparei uma música para ganhar este festival. Quando chegou à época da inscrição para o festival sentia que a música não tinha ainda ficado do jeito que queria, por esse motivo não me inscrevi, deixei para me inscrever no próximo porque aí teria certeza que a música ficaria pronta e eu ganharia o festival. Passou-se mais um ano, gravei a música em uma fitinha cassete e me inscrevi para o festival com a música “Cantiga”.
A música foi classificada na fase eliminatória, contratei dois músicos; um violonista e um cantor para interpretar a música, porque o meu objetivo era alcançar o primeiro lugar. Acompanhava os ensaios da dupla, dava opinião nos arranjos, discordava de algumas coisas, até chegarmos ao consenso de que a música seria apresentada daquele jeito.
Preparei-me para a grande noite da apresentação da música no festival, vesti minha melhor roupa, e usei minha boina preta que era meu amuleto e fui para o auditório do Colégio Santo Agostinho no centro de Belo Horizonte para acompanhar a apresentação.
Minha música era a décima terceira a ser apresentada, sentei na última fila de cadeiras em uma posição estratégica.
Chegou o momento, e o locutor apresentou:
“A décima terceira música desta noite é Cantiga do compositor Celso Moretti, vamos chamar ao palco seus intérpretes”.
Claro, por educação todos aplaudiram. Os chamados ao palco não se apresentaram, fiquei apreensivo. O locutor voltou a chamar “Vamos chamar ao palco os intérpretes da música Cantiga” e nada dos caras subirem ao palco, fiquei tonto, surpreso, não sabia o que fazia, naquele momento passou um filme inteiro na minha cabeça.
O locutor deu um tempo de dois minutos, caso ninguém se manifestasse à música estaria desclassificada. Não pensei em mais nada fui correndo para o camarim, chegando lá percebi que os dois que havia contratado não estavam presentes. Peguei um violão emprestado e subi ao palco.
Para mim não tinha muito problema em interpretá-la, porque essa música fazia parte do repertório do show “Anel Rodoviário” que estava ensaiando.
Fiz a introdução da música, percebi no momento que foi bem aceita, comecei a cantar, e cantei a primeira parte da música, involuntariamente o público aplaudiu, pensei “na hora do refrão, vou matar a pau”. Cantei o refrão e ninguém se manifestou, repeti o refrão e mais menos cinco pessoas cantaram comigo, pensei; “se repetir de novo mais pessoas vão cantar comigo”, e assim aconteceu, mais umas cinco pessoas cantaram.
Não fiquei contente porque durante a composição da música imaginava que na hora do refrão todas as pessoas presentes cantariam o refrão, devido sua simplicidade e o apelo harmônico que era fácil de ser digerido, e fui repetindo o refrão para tentar de alguma forma seduzir as pessoas e o corpo de jurados. Não deu outra, iniciaram as vaias. Meu corpo tremeu, não tinha em nenhum momento imaginado isso. Fiquei nesse momento sem saber o que fazia, se terminava a música naquele instante ou se continuava até as pessoas se convencerem que o refrão é muito bom, optei pela segunda opção e continuei a cantar o refrão.
Resultado melancólico, todas as pessoas (exceto o locutor e os jurados) presentes no auditório do Colégio Santo Agostinho me vaiaram sonoramente.
Voltei pra casa cabisbaixo e vi desmoronar naquele instante toda uma carreira musical que havia desenhado. Fiquei umas duas semanas sem sair de casa, não ia trabalhar, cancelei todos os ensaios do show que estava preparando, e nem queria conversar com ninguém, até que o tempo cuidou disso pra mim.
Este episódio me ensinou várias coisas, aprendi várias lições, e continua me ensinando até hoje.
- Não subestimar o público.
- Não tentar de maneira alguma tentar enfiar na cabeça das pessoas, que aquilo que você faz é muito bom. Deixar essas conclusões para as pessoas.
- A vaia existe, é só procurar que a gente a encontra.

Ah! ...e o violonista e o cantor?
Ligaram-me uma semana depois para certificar que dia mesmo ia ser o festival.

Nenhum comentário: